terça-feira, 20 de outubro de 2009

31 de Julho - Devia ser sexta-feira em Agra todos os dias

Acordámos às 9h (todos partidos), tomámos banho a correr e fizemos as malas num ápice, de forma a efectuarmos o “check-out” a tempo. Entretanto, apareceu o “Lucky”: dissemos-lhe que queríamos tomar o pequeno-almoço com calma no hotel e que, depois, teríamos uma conversa séria com ele sobre os eventos do dia anterior.

Já de pequeno-almoço tomado, resolvemos falar então com o nosso amigo. O acordo era o Phill resmungar com ele e eu, por ser mais brando, ficar caladinho. No entanto, como vi que o Phill estava a ser, ao contrário do esperado, muito “soft”, assumi as rédeas da discussão e ralhei, ralhei, ralhei, usando com toda a frequência possível as palavras “polícia” e “embaixada”, enquanto o repreendia por se ter metido nos copos na noite antes de nos ir levar na excursão, por nos ter arranjado um guia que não falava inglês e por nos ter metido num carro sem um pneu sobresselente capaz.

Bem, no fim disto tudo, mantivemos o acordo com ele de nos levar a Fatepur e ainda conseguimos um bom desconto na totalidade das excursões. Um apontamento para o apelo do “Lucky” que, a caminho do carro me pediu que não fizesse um ar tão severo porque não ia aguentar fazer a viagem num ambiente de cortar à faca (confesso que, face à espontaneidade do moço, arrumei o assunto logo ali).

Uma vez chegados a Fatepur Sikri, o “Lucky” arranjou-nos uma carroça que nos levou até ao complexo dos monumentos (a cidade foi mandada construir pelo Imperador Akbar, amante da filosofia, para aí residirem os sábios do reino e, após a sua morte, foi votada ao abandono devido à falta de água e número elevado de doenças que a assolavam frequentemente).

Aí chegados enfrentámos a subida pelas escadarias debaixo de um calor infernal: o acesso faz-se pela mesma entrada para a mesquita, que estava repleta de muçulmanos por ser sexta-feira.

À entrada fomos abordados por um rapaz que nos disse que como vamos entrar na mesquita teremos que deixar os sapatos à entrada: o Phill ignorou-o mas eu perguntei onde é que os poderia deixar em segurança. Foi o pior que podia ter feito…

O puto nunca mais me largava e dizia que nunca poderia entrar na mesquita sem ele porque facilmente praticaria um acto profano para o Islão. Digo-lhe que não quero guias mas ele insiste que sem ele não posso entrar: respondo-lhe que então não quero ir à mesquita e que vou directamente para o complexo de monumentos.

Saio do recinto da mesquita, agarro nos sapatos e o rapaz vem ter comigo, explicando-me que para ir para as ruínas tenho que entrar obrigatoriamente no complexo da mesquita. Encurralado naquele beco sem saída e cansado de dias e dias de assedia daqueles burlões, tenho o meu momento de quebra e sento-me no chão com a cabeça por baixo dos braços cruzados, até que aquelas melgas se vão embora.

Apesar dos esforços do Phill o rapaz não vai embora e não há ali polícia ou segurança a quem recorrer. Às tantas, vendo-me ali sentado no meio do átrio com a cabeça debaixo dos braços e com o rapaz ali às voltas, aproximou-se um homem que acabou por enxotar o pequeno vigarista… claro que não o fez sem a seguir me oferecer os seus serviços de guia. No entanto, este foi mais fácil de enxotar com dois berros.

Chegados ao interior do complexo, confesso que o stress acumulado me retirou a paciência para apreciar devidamente este exemplar perfeito da arte mogol ao serviço de um imperador apaixonado pelo debate e pelo saber.

Entretanto, os putos não largavam. É incrível: olhavam para nós e de imediato nos interpelavam em espanhol ou italiano (parece que no Norte da Índia ninguém sabe o que é Portugal). Este facto tornou-se bastante útil quando tive que afastar mais dois burlões: fi-lo com um par de frases em português (cujo teor não reproduzo por decoro), o que os deixou meio confusos.

Regressámos ao Hotel, despedimo-nos do “Lucky” e passámos o resto da tarde no terraço a escutar o canto dos pássaros e o grito dos pavões. Como é sexta-feira, a maioria das lojas estão fechadas nesta cidade maioritariamente muçulmana, o que amplifica a calma que se sente naquela tarde.

Comemos e bebemos e, quando vem a conta do hotel traz anexo um bilhetinho ("YOU ARE GOOD")… estou a ver que a malta indiana é dada à malandragem.

Rumámos à estação, onde travámos conhecimento com um casal de Singapura que também andava perdido naquela grande confusão que é a Índia. Entramos no comboio nocturno para Varanasi (esperam-nos 12 horas de viagem) e partilhamos o sono com os indianos que se apinham pelas camas acima. Nesta noite a minha coluna tomou a forma de um oito.

(de carroça a caminho de Fatepur)

(escadarias e entrada de Fatepur Sikri)

(entrada para a mesquita... não se querem cabrinhas ali)


(o recinto da mesquita)

(entrada do complexo)

(pavilhão no centro de um tanque - Fatepur Sikri)

(um dos muitos edifícios da cidade abandonada)

(pormenor de uma coluna de um dos edifícios)

(pormenor de uma coluna de um dos edifícios)

(carroças puxadas por... camelos!?!)

(terraço do Hotel Sheila - Agra)

(o bilhete... quem diz que o flirt à indiana não tem glamour? LOL!)

(a bela da Kofta)

(... seguida de um arroz doce "à la indiana")

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